O jornal local, “O Município”, de 15/7/1920, publicou:

 

Lavras terá dentre em breve um estabellecimento que por sua organização, installação e efficiência, ficará emparelhado com os mais completos do mundo”.

 

Esta menção foi em referência ao lançamento da pedra fundamental que daria origem ao primeiro prédio da Escola Agrícola de Lavras, recebeu o nome de “Álvaro Botelho”. Este prédio atualmente abriga o Museu Bi Moreira.

 

A solenidade ocorreu no alto da colina localizada junto à face leste do Ginásio do Instituto Evangélico, atual Instituto Presbiteriano Gammon.

 

Solenidade de lançamento da pedra fundamental do prédio Álvaro Botelho.

Data: 1920. Fonte: arquivos do Museu Bi Moreira

 

A pedra fundamental era lavrada e foi cravada em outra pedra, de mármore, contendo a inscrição “Sciencias, A.D. 1920” (Ciências, anno domini, 1920). Durante a solenidade, importantes personalidades que estavam presentes, num gesto de forte simbolismo, impuseram as mãos sobre essa pedra. Assim registrou-se neste ato o representante do Secretário de Agricultura de Minas, Cel. Pedro Salles; o cônsul geral dos Estados Unidos, H. Haberle; o promotor de justiça, Duque da Rocha, e o agente executivo, Cel. Augusto Salles.

 

A pedra foi então colocada no alicerce junto com uma caixa, contendo documentos importantes da fundação da Escola Agrícola, incluindo o discurso pronunciado pelo cônsul americano nessa cerimônia. Assim, com o “lançamento da pedra fundamental”, iniciou-se o processo de construção do prédio para abrigar as salas de aulas da Escola Agrícola de Lavras.

 

A cerimônia foi precedida por uma invocação da benção de Deus pelo pastor presbiteriano Reverendo Jorge Goulart. Na sequência, os presentes cantaram o Hino Nacional Brasileiro e, no encerramento, mais dois hinos foram cantados: um dos hinos nacionais da América do Norte e a Marselhesa, Hino Nacional Francês. Destaca-se que este evento foi realizado em 14 de julho de 1920, data coincidente com a comemoração da Queda da Bastilha.

 

O então diretor da Escola Agrícola Benjamim Harris Hunnicutt, em seu pronunciamento destacou a importância dessa escola para o progresso agrícola no Brasil e, ainda, o grandioso projeto que previa a construção de 13 pavilhões destinados a vários ramos dos estudos agrícolas. 

 

Essa foi a primeira etapa de um projeto iniciado dois anos antes, quando o reitor, Dr. Samuel R. Gammon, o Diretor Benjamim H. Hunnicutt e o vice-diretor, professor Charles Knight elaboraram um prospecto denominado Instituto Evangélico – Lavras Agricultural College, apresentando a escola, os objetivos e planos de expansão. Esse prospecto foi encaminhado para diversas instituições, organizações e governo, com o intuito de conseguir os recursos necessários para esse projeto.

Neste prospecto é explicado que a Escola Agrícola, embora fundada em 1908 e em ativo funcionamento, ainda ocupava o mesmo edifício do ensino ginasial. Assim, foi elaborada a proposta para uma nova área, onde seriam construídos novos prédios, dormitório e um prédio principal, no qual funcionariam escritórios, sala de reunião e outras áreas gerais. Especificamente para a construção desse edifício seriam necessários $50.000. Detalha-se que o prédio seria construído com tijolos, com fundação de pedras e cobertura de telhas. E para essa obra, o Instituto possuía pedreira, leito de areia e forno para tijolos.

Os professores tiveram sucesso nesta solicitação, pois conseguiram a construção do prédio, podendo-se observar em imagem do prospecto de Instituto as obras e a promessa de conclusão para o ano letivo de 1922.

 

Inauguração

O prédio “Álvaro Botelho”, inicialmente denominado Pavilhão de Ciências, uma edificação de 900m2 com detalhes neoclássicos, em foi inaugurado 14 de julho de 1922, coincidentemente a mesma data do lançamento da pedra fundamental, comemorando a data da queda da Bastilha.

 

A denominação dada ao prédio é homenagem ao político lavrense Álvaro Augusto de Andrade Botelho, nascido em 8/2/1860 e falecido em 16/12/1917. Após a proclamação da República, foi eleito deputado constituinte em 1890, exercendo o mandato até 1899. Assim, participou da constituinte que elaborou a Primeira Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Atuou juntamente com Prudente de Morais e Campos Sales, formando a “Trindade de Republicanos”, os quais conseguiram integrar o Parlamento do Império. Advogado e jornalista, exerceu em Lavras os cargos de Presidente da Câmara e Agente Executivo.

 

Dr. Álvaro Botelho. Foto disponível no Arquivo Histórico da Câmara dos Deputados.

 

Prédio Álvaro Botelho. Data provável: 1922 ou logo após. Fonte: Arquivos Renato Libeck.

 

Nesta data também foi inaugurado o, Prédio Dr. Carlos Prates, que possuía restaurante e dormitório para os alunos.

 

Prédio Carlos Prates – dormitório dos alunos (esq.) e Prédio Álvaro Botelho (dir.).

Data provável: 1922 ou logo após. Fonte: arquivos do Museu Bi Moreira.

 

 

Os prédios Carlos Prestes e Álvaro Botelho e a fazenda Ceres. Data provável: após 1922.

Fonte: arquivos do Museu Bi Moreira.

 

A solenidade foi prestigiada por importantes pessoas da sociedade da época e contou com pronunciamento do Samuel Rhea Gammon, Benjamin Hunicutt, Prof. Benedicto Paiva, além do estudante José Alvarenga e do Cel. Christiano de Souza.

 

Conforme registrado no periódico “O Agricultor”, ano 1, n.3, setembro/1922:

 

Oxalá que os drs. Benjamin Hunnicutt e Samuel Gammon possam, congregando as suas capacidades, ver em breve, ao lado destes dois, eregidos mais onze novos predidos, abertos à mocidade do Brasil, que procura no seio da terra a grandeza da Patria e nella estabelecer os alicerces da soberania nacional

 

Extrato do periódico “O Agricultor”, ano 1, n.3, setembro/1922. Disponível no Repositório UFLA.

 

 

O prédio “Álvaro Botelho”, era sede administrativa da Escola Agrícola de Lavras, com escritórios e, ainda possuía salas de aula, biblioteca, laboratórios de física, química, história natural, agronomia e agrologia. Em Prospecto do Instituto Gammon, para divulgação de abertura de vagas para novos estudantes para a Escola Agrícola, ainda destacava que possuía água corrente, força elétrica e gás em todas as salas, as quais eram “próprias para os trabalhos individuais dos estudantes. ”

 

Com a construção do novo câmpus, as atividades administrativas e didáticas foram transferidas para novos prédios e os antigos foram destinados a outros usos.

 

Desta forma, o Prédio “Álvaro Botelho”, passou a ser sede do Museu Bi Moreira, cuja inauguração ocorreu em 09 de setembro de 1983, nas celebrações de 75 anos da ESAL. O nome deste museu é homenagem a Sílvio do Amaral Moreira (1912-1994), jornalista lavrense, ex-tipógrafo da gráfica da ESAL e grande colecionador.

 


Placa alusiva à criação do Museu Bi Moreira

 

Tombamento

O Prédio que abriga o Museu Bi Moreira foi tombado por meio do Decreto municipal n. 6.671, de 23 de março de 2006, registrado sob Tombamento n.3 – Prefeitura Municipal de Lavras.

 

Curiosidades

O prédio Álvaro Botelho, que abriga o Museu Bi Moreira, foi e tem sido um marco e importante referência na história da Escola Agrícola de Lavras (EAL), depois Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL) e, atualmente, Universidade Federal de Lavras (UFLA). A imagem desse prédio aparece em convites, calendários, folders, agendas e, também, esteve estampada em duas edições da Loteria Mineira, por ocasião do 75º e 85º aniversários da então ESAL.

 

 

“Tirinhas” da Loteria Mineira. Datas: 1983 e 1993. Fonte: arquivos do Museu Bi Moreira.

 

convite de formatura ufla
Imagem do convite de formatura, turma Dezembro/1991. Bico de Pena, Prof. Carlos Frederico Bueno, 1991

Referências

 A PEDRA fundamental - do primeiro pavilhão da Escola Agrícola de Lavras. Jornal O Município, Lavras, 15 jul. 1920.

Álvaro Botelho. Arquivo Histórico, Câmara dos Deputados. Disponível em: https://arquivohistorico.camara.leg.br/index.php/alvaro-botelho-2

DIAS, J.C. A Terra prometida de Lavras. São Paulo: Editora Barleus, 2009. 139p.

INAUGURAÇÃO dos novos prédios da Escola Agrícola de Lavras. O Agricultor, ano I, n.3. 1922.

PAIVA, P. D. O.; ALVES, S.F.N.S.C. História da praça do campus histórico UFLA. Lavras: UFLA, 2011. 43p.

PROSPECTOS Instituto Gammon. Anos diversos. Disponível em: Museus UFLA.

NÉMETH-TORRES, G. Livro do tombo histórico. Revista do Patrimônio Cultural de Lavras, ano 2, n.2, 2021 p.9-13

 

 

 

Outras fotos:

 

1922
Imagem mostrando o Prédio Álvaro Botelho em construção (à dir.). Publicada no Prospecto do Instituto Evangélico (1921 ou 1922?).

 

Prédio Álvaro Botelho. Data provável: década 1920, logo após a inauguração. Fonte: arquivos do Museu Bi Moreira.

 

 

Prédio Álvaro Botelho. Data provável: início de 1930. Fonte: arquivos do Museu Bi Moreira

 

 

Jardim e prédio Álvaro Botelho. Data provável: 1943 ou 1944. Fonte: arquivos do Museu Bi Moreira.

 

 

Prédio Álvaro Botelho. S.d. Fonte: Arquivos Renato Libeck.

 

 D:PatríciaLivro História das praçasPraça Campus UFLAFotosprédio decada de 1950.jpg

Prédio Álvaro Botelho. Data provável: Década de 1950. Fonte: arquivos do Museu Bi Moreira.

 

 

Formandos 1961 com prédio Álvaro Botelho ao fundo. Fonte: arquivos do Museu Bi Moreira.

 

 

Vista do jardim com prédio Álvaro Botelho ao fundo. Data provável: final da década de 1960. Fonte: arquivos do Museu Bi Moreira.

  

 

 

Prédio Álvaro Botelho. Data provável 1969/1970. Autor desconhecido.

 

 

Prédio Álvaro Botelho. Data: Julho 1971. Autor desconhecido.

 

 

O prédio e a nova palmeira. Data provável: 1994 ou 1995, baseando-se no porte da palmeira plantada em 1992.

 

 

Prédio Álvaro Botelho. Data provável: Década 1990. Fonte: Arquivos Renato Libeck.

 

 

Prédio Álvaro Botelho. Data provável: Década 1980. Fonte: Arquivos Museu Bi Moreira.

 

Prédio Álvaro Botelho. Data provável: Década 1990. Fonte: Arquivos Renato Libeck.

 

 

O prédio com vista da praça antes do processo de reconstrução. Data: 04/08/2011 Foto: Patrícia D. O. Paiva.

 

Dia de inauguração da reconstrução da Praça do Câmpus Histórico. Data: 06/09/2012. Foto: Patrícia D. O. Paiva.

 

 

O prédio com vista da Praça após a reconstrução. Data: 09/05/2014. Foto: Patrícia D. O. Paiva.

 

 

O prédio com vista da Praça após a reconstrução. Data: 19/12/2014. Foto: Patrícia D. O. Paiva.

 

 

O prédio com vista da Praça após a reconstrução. Data: 19/12/2014. Foto: Patrícia D. O. Paiva.

 

 

 

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